G1: jornalismo de terceira geração?
Por Adriana Fradique, Alex Damasceno,
Bruno Rhuan, Rosana Itaparica
Curso de Comunicação Social da UFPA
Norteados pelos conceitos de Sonia Aguiar, extraídos do Curso PIATAM de Jornalismo para a Internet, tentamos conflitar as informações com a prática e avaliar até que ponto o jornalismo feito sob a interface da web é de fato feito para a internet e seu público multifacetado e não-específico.
A não-especificidade se justifica pelo usuário de internet ser cada vez mais global e não se restringir à hipermídia. O usuário mantém vínculos com a maioria das mídias tradicionais e navega na rede imerso em outros modos de comunicação que se interligam e engendram. Tudo isso a partir de sua residência.
Para a análise, escolhemos o site de notícias G1 do portal globo.com, de propriedade da família Marinho. Utilizando-se do método de comparação entre a conceituação de Sonia Aguiar e o uso prático, a proposta desta análise é mapear o curso do site G1 rumo a construção de uma linguagem própria da web, com a convergência de texto, som e imagem.
Características fundamentais à classificação de um bom jornalismo feito para a internet serão postas à prova permitindo o entendimento do que se almeja para um futuro próximo nesta mídia tão recente.
O site G1, objeto de nossa análise, entrou na rede em 18 de setembro de 2006, sob grande divulgação da empresa Globo, da qual faz parte. A empresa decidiu disputar o mercado dos grandes conglomerados de internet fomentando seu caráter mais deficiente na hipermídia, que seria o jornalístico, segundo análise da alta cúpula da empresa.
Inaugurado há poucos meses, o site é considerado uma boa página de notícias, ganhou visibilidade, principalmente, no período de eleições através das veiculações, em tempo real, dos boletins eleitorais.
Os múltiplos modos de comunicação,
multilinguagens da interface
Os computadores não são apenas suportes da comunicação como se nota nas demais mídias, eles vão além e mostram-se como interfaces, onde múltiplos modos de comunicação são possíveis. A hipermídia propicia um envolvimento à distância e a comunicação ganha possibilidades. A unilateralidade tão apontada como o problema dos meios tradicionais deixa de ser uma condição e passa a ser um entrave removível sob pena de extinção na rede.
O Brasil é um país de apaixonados pela internet. Está entre os 15 maiores países em número de conexões no mundo, segundo dados do IBOPE/net. Há os que afirmam que até o final do próximo ano a banda larga deve chegar a todos os municípios do país. Diante de um crescimento tão promissor, as empresas perceberam o quanto a hipermídia é fundamental e que os consumidores exigem esse ajuste, essa nova maneira de se relacionar com o seu fornecedor, seja ele de notícias, como no jornalismo de internet, seja de eletro-eletrônicos. As empresas seguem seu consumidor que também é o usuário da internet, que tem muitas outras faces e que a vê como uma ferramenta da qual pode usufruir para realizar suas compras, para o entretenimento, para informar-se e, ainda, formar-se.
A busca pela convergência:
som, texto e imagem
A hipermídia pertence a todos e a ninguém, o acesso às informações é irrestrito e por isso não pode se compor por códigos indecifráveis, a linguagem para a internet precisa ser própria para o meio, mas não circunscrita a esse meio. O usuário precisa ser atraído, precisa se sentir confortável para passar algum tempo em frente a interface da web e para tanto é necessário que os recursos sejam
explorados o máximo possível. É sob esse prisma que devemos observar as construções para a web e, de uma maneira mais direcionada, o jornalismo de internet que além de buscar essa convergência (som, texto e imagem) deve primar por ser sempre de caráter noticioso, de interesse público e imediato.
No G1, vertente noticiosa do portal globo.com, se percebe uma preocupação em atender ao que definimos como caracteres básicos para um jornalismo razoável de internet, com ressalvas é claro.
Internet: uma linguagem
ainda em construção
Na denominação de Sônia Aguiar, o G1 pode ser considerado jornalismo online, por manter um plantão como destaque de sua página inicial. Além disso, por utilizar a interface da web, ele pode ser categorizado como “webjornalismo”. A produção e veiculação de conteúdos jornalísticos em formato digital o credencia a ser jornalismo digital.
Aqui cabe fazer um comentário: o G1 não produz material especificamente para Internet. Todo conteúdo de imagem veiculado pelo site é, na verdade, a digitalização daquilo que foi produzido a priori para a televisão, ou seja, o G1 se encaixa na conceituação de jornalismo digital graças ao adendo de “digitalização do acervo audiovisual analógico”.
Em termos de processo de produção, Sônia Aguiar identifica 3 gerações: na primeira, temos apenas a conversão para o formato digital dos jornais impressos, isto é, ele é apenas recodificado. Na segunda geração, já há uma produção efetiva do que é veiculado pelo site. Há um arranjo espacial pensado (webdesign), critérios de edição, utilização de hipertexto, recursos de interatividade e de memória. Já a terceira geração é aquela na qual os projetos de editoração são colocados em prática especificamente no ambiente virtual.
Algumas críticas podem ser colocadas a esse modelo de raciocínio:“O jornalismo está em sua terceira geração”: na verdade, alguns projetos se encontram nessa terceira geração, mas a grande maioria dos sites ainda se prepara ou está tentando passar para a segunda geração, haja vista que eles não são específicos para a Internet, logo não são de terceira geração, nesse caso, ser de segunda geração não deve ser considerado um atraso.
Tampouco se deve isolar as gerações. O fato de estar na primeira geração não significa que esse site não possa ter características da segunda geração, por exemplo.
O G1 pode ser considerado de 3ª geração, pois é um projeto/ veículo específico para a Internet, todavia, ele (como dito anteriormente) não produz material com uma linguagem pensada para a rede, ele apenas recodifica o material audiovisual produzido para a televisão. Ora, se apenas a recodificação do jornal impresso o faz permanecer numa teórica primeira geração e deve-se acreditar que a não-produção de material com linguagem própria o mantém numa terceira geração, logo, haverá uma quarta geração? E que linguagem essa quarta geração trará?
Características que afetam
os conteúdos jornalísticos
A forma da busca pela informação na Internet se dá de forma diferente em relação a outras mídias. Assim, a informação também é diferenciada. As características desse novo meio personalizaram a busca pela notícia e alteraram assim, as produções jornalísticas no que diz respeito a outros meios.
Essa mudança se dá com a criação de um ambiente hipermídia. Um ambiente onde o usuário pode acessar de forma livre os conteúdos, na ordem que bem deseja, sendo disponibilizado conteúdos que provêm das outras mídias (impressa, radiofônica e audiovisual). Outra característica desse ambiente é uma redefinição do “tempo jornalístico”. Uma mudança de “tempo real”, para “tempo virtual”. Veremos isso melhor mais à frente, quando partirmos para a análise do G1.
O portal de notícias da Globo cria esse ambiente hipermídia, auxiliado de diversas ferramentas.
Hipertexto
A hipertextualidade é a propriedade que um texto tem de se conectar com outros textos ou recursos. Essa conexão se dá através de links dentro do texto. O G1 oferece esse tipo de navegação ao seu usuário. Durante a leitura de uma matéria, ou de uma notícia, o G1 oferece links em palavras sublinhadas e na cor vermelha.
Esses links podem levar o usuário para outras matérias ou para vídeos. Em outros casos, quando uma instituição é citada no texto, o link com o site da instituição abre em uma nova janela. Ou seja, os links que geram a hipertextualidade do site, nunca fazem com que o site seja fechado.
O G1 pode ser explorado de forma não-linear, de acordo com a vontade do usuário. O caminho a ser seguido depende apenas de suas escolhas. Não há uma hiperficção, em que o usuário utiliza um sistema de links e sua navegação é controlada por uma caminho já estabelecido. Porém, ao navegar pelo G1, nota-se que não existem formas de orientação pelo caminho seguido. Quando se clica em um link, o mesmo não se altera (não muda de cor, a forma mais comum de mutação). Portanto, durante a navegação pelo G1, pode-se entrar mais de uma vez no mesmo link. Não há orientação nesse sentido.
Convergência de mídias
O portal traz links de diversos sites de órgãos da imprensa. São ao todo 22 links, 8 de jornalismo impresso, 12 telejornais e 2 links de rádios. Porém, isso por si só não representa uma convergência de mídias.
Convergir mídias significa oferecer de forma unida seus conteúdos e características. O G1 oferece conteúdo em três tipos de formatos: texto, foto e audiovisual. Em algumas matérias os três são oferecidos ao mesmo tempo. Porém, o G1 não produz conteúdo audiovisual, apenas recupera matérias veiculadas em telejornais da Rede Globo. É até possível ver o apresentador do jornal lendo a cabeça da matéria.
Com isso, percebemos que é deficiente a convergência nesse site, apenas reproduzindo conteúdos já veiculados e não produzindo novos mecanismos para apoiar a informação.
Muiltidirecionalidade
O G1 tem muitas ferramentas para atingir receptores que estejam fora do portal globo.com. O primeiro através da opção “Alerta de notícias”, o usuário pode fazer o download de um aplicativo que faz aparecerem, vinte e quatro horas por dia, janelas com notícias do G1 na área de trabalho. Ou seja, para se manter informado pelo G1, nem se precisa entrar no site. Nesse caso, pode-se escolher as notícias das editorias do interesse do usuário.
Outra ferramenta é o “G1 no seu celular”. Através dessa opção, recebem-se notícias do portal, como mensagem de texto no celular. Basta enviar uma mensagem (de custo de R$ 0,31) para o número de telefone referente ao site, com uma palavra chave, ou o nome da editoria que se quer receber a notícia.O G1 fornece também, para sites ou blogs, o conteúdo de seu “Plantão”, na opção “G1 no seu site”. Dessa forma, donos de blogs podem oferecer conteúdo do G1, através de seus blogs. Com isso, o G1 disfarça propaganda como serviço e consegue atrair mais leitores.
Tempo
Outras mídias se baseiam em uma informação veiculada em espaços de tempo pré-determinados. Por exemplo, um jornal tem uma edição por dia. Nessa edição, ele cobre as notícias mais importantes que aconteceram até o horário de fechamento do jornal. Com isso, notícias que acontecerem depois desse horário vão para o jornal apenas do dia seguinte. No meio radiofônico, acontece de forma diferente.
Com a possibilidade de estar 24 horas no ar, a rádio pode oferecer boletins de notícias, de meia em meia hora, por exemplo, além da existência de noticiários em seus respectivos horários. Na televisão, as notícias que entram no ar são aquelas que aconteceram até o fechamento da edição. Alguma notícia só entra no ar fora do horário do telejornal se for de extrema importância, é o caso do "Plantão”. Claro que essa análise diz respeito apenas às televisões abertas, já que existem canais fechados que disponibilizam conteúdo em tempo integral.Na Internet, as relações com o tempo têm características completamente diferentes, e no caso do G1 não é diferente.
O G1 disponibiliza todo o conteúdo que já foi veiculado no site, por meio de um banco de dados que pode ser acessado por uma ferramenta de busca. Portanto, a notícia não se perde mais com o tempo e fica eternizada dentro do site. Isso cria uma atemporalidade na informação, a notícia de ontem não se perde. Ela pode ser recuperada.
Essa atemporalidade também pode ser percebida quando o G1 propõe uma atualização contínua, no link “Plantão”. As notícias são escritas e vão direto para o site, causando uma instantaneidade, um jornalismo em “tempo real”. Porém muitas dessas notícias que entram no plantão são “frias”, notícias não muito importantes e que não necessariamente, acabaram de acontecer.
Com isso, essa instantaneidade do G1 é relativa e sua atualização contínua não é eficiente. Em muitos casos a notícia do plantão é atualizada. Ela entra no site com apenas um parágrafo e com poucas informações. Com o passar do tempo ela vai ganhando novas informações e ficando mais completa. Na medida em que o repórter vai se informando, o usuário vai se informando também.
Impactos sobre os
procedimentos profissionais
A primeira conseqüência trazida, não necessariamente pelo G1, mas pela Internet, é uma mudança nas relações do jornalista com suas fontes, com o tempo e espaço para produção de matérias e com o próprio trabalho.
A Internet possibilita uma interação não presencial com a fonte. No caso de uma entrevista, o repórter não precisaria estar no mesmo local que seu entrevistado, bastando que ambos tenham acesso a uma sala de bate papo ou programa de conversação em tempo real. Entrevistas, apurações e possíveis correções na matéria podem ser feitas sem demora através de uma conversa com a fonte via Web.
Já com relação ao tempo e o espaço, a Internet possibilita um quase infinito espaço para publicação. Porém, levando-se em conta especificidades do meio, é preferível um texto mais curto em relação ao comumente produzido no jornalismo impresso. A questão do tempo também é superada. Em TV e rádio o tempo dita a produção das matérias, às vezes obrigando cortes de informações importantes. A Internet também modifica certas rotinas de trabalho do jornalista. Redação, cobertura do fato, de volta à redação, produção da matéria, edição, publicação.
Essas atividades são reordenadas quando se pode publicar texto, foto e vídeo utilizando qualquer computador ligado à rede. A busca por um jornalismo cada vez mais rápido, a elaboração de matérias cada vez mais “quentes”, provoca uma substituição de atividades.
Um aspecto interessante encontrado no G1, além da possibilidade desses outros já citados, é a contextualização do jornalismo. O site permite a criação de um background, uma série de conteúdos multimidiáticos em relação a um mesmo assunto. A segunda matéria em destaque, por exemplo, está relacionada à última nota publicada no Plantão. Além disso, o vídeo de destaque exibe uma matéria de TV digitalizada tratando do mesmo assunto. Além disso, cada matéria possui um histórico anexado, com links para vários outros conteúdos sobre o mesmo assunto.
Impactos sobre os processos
de produção jornalística
Relacionando o site G1 com os processos jornalísticos, surgem possibilidades na construção do texto da matéria, que apresentam hyperlinks para diversos outros textos formando uma rede de conteúdos limitada ao site, pois o G1 não direciona o internauta para outros endereços, a não ser em caso de prestação de serviços (sites públicos, etc.) e mesmo assim o faz através de pop-ups, ou seja, o internauta não sai realmente do G1, apenas é aberta uma nova janela para o novo endereço.
Essa não-linearidade é uma quebra em relação a outros meios. O internauta pode ler um texto sobre cinema e clicar num link que o direciona para uma matéria sobre um diretor, daí parte para outra sobre culinária e assim por diante. O receptor da informação pode, mesmo que de modo limitado, escolher qual caminho seguir dentro do site.
Uma editoria do site chama atenção por não dar informações de valor questionável, como notícias de curiosidades ou estranhezas ao redor do mundo. Vemos mais uma vez uma forma de atualizar o site a qualquer custo, mesmo que seja com informação de pouco interesse.